O PASSADO MANDA LEMBRANÇA III

 

PREFÁCIO: O PASSADO MANDA LEMBRANÇA III

TODOS OS TONS

“Você já reparou como as fotos em preto-e-branco transmitem mais emoção? A falta de cor pode revelar outras coisas! “

 

                                                           Yuri Bittar – Designer, fotógrafo e historiador

 

            A fotografia nasceu em preto e branco, ou preto sobre o branco, no início do século dezenove.

            Todos os princípios da fotografia foram descobertos ou desenvolvidos antes do surgimento da fotografia colorida.

            Desde as primeiras formas de fotografia que se popularizaram, como o daguereótipo, aproximadamente na década de 1830, até os filmes  PB atuais, houve muita evolução técnica e diminuição dos custos.

            Costuma-se chamar preto e branco, ou branco e preto, ou PB, fotos que possuem apenas tons de cinza, variando do branco ao preto.

            Os filmes atuais em PB tem grande gama de tonalidades, superior mesmo aos coloridos, resultando em foto muito ricas em detalhes.

            Com o surgimento dos filmes coloridos, popularizados a partir da década de 1960, muito se falou no fim da fotografia preto-e-branco.

            Mas nós sabemos que isso não aconteceu e, ainda hoje usa-se muito a fotografia PB porque, dentre outros fatores, a falta de cor torna a imagem registrada mais distante do nosso olhar (colorido), o que facilita a busca de um registro além da realidade, ou de uma outra realidade.

            É a poesia fotográfica.

            Também a fotografia em PB facilita a abstração das imagens, o que nos permite criar algo que não é um registro, mas, sim, algo novo por si mesmo, enfim, arte, permitindo-nos perceber melhor as formas, expressões e tonalidades, além de despertar o saudosismo.

            Vejam que, no caso de fotos de casamento, quando desejamos fotos que realmente se diferenciem, que sejam artísticas, românticas e sensíveis, pensamos em fotos em PB, porque elas têm um clima mais atemporal, eterno.

            A foto PB, por ser arte e poesia, permite licenças, pois cada pessoa pode ver outros fatores instigantes, afinal, Barthes diz que: “uma foto é sempre invisível: ela não é ela que vemos”.

            E é isso o que buscam meus versos junto às fotos dessa obra: uma espécie de extracampo sutil, como se a imagem lançasse o desejo para além daquilo que ela dá a ver.

 

Entre o branco e o preto,

Os tons de cinza.

Entre a praia e o mar

O vai e vem das ondas.

 

Entre o branco e o preto, os múltiplos tons de cinza são os mais importantes, assim como em diversas situações e experiências de nossa vidas, o mais importante foi o decorrer, o caminhar, os meios, e não os extremos.

Busco, unindo a palavra às imagens —nesse terceiro volume de “O Passado Manda Lembrança” — levar o leitos, a cada página admirada, a um mundo paralelo, que, aparentemente, nada tem a ver com as fotos vistas, mas que levam à mesma importante mensagem de Roland Barthes em seu livro A Câmara Clara: “ A própria foto não é em nada animada, mas ela me anima: é o que toda aventura produz”.


ANTONIO CARLOS TÓRTORO
www.tortoro.com.br
ancartor@yahoo.com

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