O PASSADO MANDA LEMBRANÇA I
PREFÁCIO DE "O PASSADO MANDA LEMBRANÇA I"
"As coisas das quais nos ocupamos, na fotografia,
estão em constante desaparecimento e, uma vez consumado, não dispomos de
qualquer recurso capaz de fazê-las reaparecer"
Henry Cartier Bresson
Henry Cartier Bresson
Cento
e cinquenta fotos : setenta e cinco em branco e preto e setenta e cinco
coloridas.
Cento
e cinquenta anos de uma cidade e setenta e cinco olhares, reflexões do poeta,
sobre fotos que contam um pouco da história dela.
Olhar
photos, isto é, fotografias antigas — é perder-se num
mar de sensações indescritíveis, reflexões, ideias, emoções variadas ,
sentimentos indecifráveis.
Observar
photos é como ver lagartas ainda em casulos, pautas musicais intocadas, barcos
ancorados, comida no prato, botão que não se abriu, carta sem remetente,
pontes, rios .
Analisar photos é sentir-se fórceps invadindo útero e
dele retirando antigas primaveras, frios invernos, romances desfeitos, seios perfeitos,
calos doloridos, ogros e unicórnios.
As
photos falam caladas, seus conteúdos esfacelam-se como asas de mariposas ao
serem tocadas por nossos olhares mais profundos, elas são cosmos a serem
conquistados, vinho a ser sorvido, ar a ser respirado, companheiras de vigília.
Enfim
, as photos são aquilo que você desejar que sejam, caixas de Pandora, cujos
conteúdos só dependem da sensibilidade de quem as observa.
Não
existem fotografias do presente e do futuro: as fotos reveladas são sempre do
passado, um passado — próximo ou distante —
que não volta mais.
Olhar
e ver uma fotografia é ser todo ouvidos
no momento da observação, é entregar-se por inteiro à própria atenção como
receptáculo, totalmente vazio, prestes a encher-se com o rico e inesgotável
conteúdo dela, é sentir que, naquele momento, poder-se-á atingir a derradeira
perfeição na arte de ver.
Mergulhados
que estamos hoje, num mundo de imagens
invasivas, muitas de mau gosto, que se apresentam e desaparecem aos nossos
olhos com a rapidez que só a TV e a
Internet permitem, acostumamo-nos a não ver , a não dar a devida atenção a essa
multiplicidade de cores e luzes.
Mas
numa exposição fotográfica é diferente : é preciso ver o coro de mil cores
contidas, inclusive , nas fotos em branco e preto, ligar a alma a determinados
detalhes e deixar que eles penetrem seu espírito, buscando encontrar ali a
perfeição procurada pelo fotógrafo/artista no momento do flash revelador.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO
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