O PASSADO MANDA LEMBRANÇA II



PREFÁCIO DO PASSADO MANDA LEMBRANÇA II

 

(...) a essência da imagem é estar toda fora, sem intimidade, e no entanto mais inacessível e misteriosa do que o pensamento do foro íntimo; sem significação, mas invocando a profundidade de todo sentido possível; irrevelada e todavia manifesta, tendo essa presença-ausência que faz a atração e o fascínio das Sereias.


                                                                                          Maurice Blanchot
 

 

Revisitar o passado com múltiplos olhares é falar sobre a história em suas infinitas manifestações, é falar das ações e obras de grupos e indivíduos: é falar de luz , vida e amor.

Quando observamos um site ou revista sobre fotografias, notamos que o  material capturado é, quase sempre, nosso antigo conhecido.

Mas o que torna, então, determinado fotógrafo ou fotografia mais interessante que outros ?

Os olhares.

O olhar que encontra um detalhe interessante, o que invade a privacidade de coisas e pessoas, o que descobre e registra um fato inédito, o que vê por meio de um espelho d’água, o que revela ao mundo uma realidade  local ou regional, o que agride desvendando rugas, o que, enfim, olha com os olhos do coração e da alma.

Fotografias são frutos de olhares, ou mesmo os próprios olhares e, como tal, agridem, agradam,  dão prazer, provocam, desafiam, alegram.

E, dentre essas múltiplas formas de olhares, surge neste trabalho do Grupo Amigos da Fotografia, o re-olhar, o olhar novamente pelo mesmo prisma, pelo mesmo ângulo, no mesmo lugar, com a mesma luz, mas em épocas diferentes.

E eis revelada a mágica que encanta e faz refletir : poder capturar a ação do tempo sobre as coisas e pessoas, ficar imaginando como e o que motivou os fotógrafos que registraram o antes e o depois, sentindo-se parte do processo da criação divina — se, não criando , pelo menos registrando — capturando imagens para libertá-las inexoravelmente, acompanhadas de reflexões poéticas,  para todos os leitores que amam  e admiram a arte de Daguerre.

Como diz a escritora Ely Vieitez Lisboa, na página setenta, do volume no. 1 de “O passado manda lembrança”  : “Já se disse que os artistas são as antenas do Universo. Eles captam as belezas do mundo, da Criação, por mais esconsas que possam estar. É um dom, uma aptidão, uma virtude.
O artista filtra as belezas do mundo, procura entender as complexidades dos seres humanos por meio de sua cosmovisão. Assim, ele está ligado, essencialmente, à sua obra de arte, porque ela é o seu olhar, a sua visão particular.
           Ora, a foto é sempre uma espécie de metalinguagem artística, porque, se a vida é dinâmica, a foto capta um átimo de existência que se cristaliza por intermédio na visão do fotógrafo. Ele sempre fotografa o seu íntimo, a sua visão de mundo.
           Quando um poeta escreve uma reflexão poética sobre uma foto, dá-se, de novo, outra metalinguagem: é a visão do poeta que tenta interpretar o momento mágico de outra interpretação, a do fotógrafo”.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO

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